8 horas haviam se passado e já tinha feito tudo como havia treinado, só que até aquele momento nunca havia me exercitado mais que 6 horas, e agora tinha uma situação que até gostava de brincar, mas era válida, já sabia como pedalar 6 horas sem parar e correr uns 3 quilômetros como havia feito nos treinos esse ano, mas será que conseguiria concluir uma maratona depois de tudo isso? Nunca havia corrido uma maratona, será que meus treinos de corridas frequentes e longões de no máximo 23 quilômetros realmente me capacitaram a terminar uma maratona do IronMan? Minha esposa estava naquele momento mais tranquila: depois das 6 horas de bike, não estaria mais sujeito a uma surpresa com uma corrente ou algum cabo de câmbio rompida, mérito das revisões feitas nesse ano. Agora estaria totalmente por minha conta.
Da mesma forma que o ciclismo, tinha uma roupa especial para a corrida, uma camiseta com uma transpiração bem eficiente com textura de algodão e um shorts com bolso para levar o que precisaria para o restante da prova, queria sair seco para a corrida, não há nenhum efeito prático conhecido para isso, pelo menos queria sair o mas renovado possível para corrida. Tomei mais um Advil e uma mão cheia de Calminex nas costas para não sofrer o mesmo que outras provas. Daí em diante, não tive nenhum sinal de dor na lombar.
Comecei a corrida pensando nas subidas de Canasvieiras, como fiquei em um hotel lá, fomos e voltamos diversas vezes de lá e toda vez via no quão exigentes as ladeiras eram, larguei até animado com a festa que o pessoal fazia em Jurerê, mas mantive meu ritmo para ter um pouco mais de constância, nessa saída fiquei até emocionado, já estava ouvindo que Igor Amorelli havia vencido o IronMan e tínhamos agora o primeiro brasileiro vencedor dessa prova, me contive na emoção e segui em frente em um ritmo mais sustentável.
Chegando nas ladeiras não tive dúvida: comecei a caminhar até o final dela, e pude fazer isso sem constrangimento já que a grande maioria dos que me acompanhavam naquele momento faziam o mesmo. No final das subidas, voltei a correr, no caso não podia mais escolher ficar em um ritmo sustentável, fazia o ritmo que conseguia, de 7 a 7.5 minutos cada quilômetro, quando cheguei na primeira curva de 180 graus em Canasvieiras para voltar para Jurerê, um participante brincou comigo, “Está chegando, já estamos voltando!” eu respondi não saber estar chegando em algo tão significante já que estávamos no 8o quilômetro e ainda não tinha chegado sequer a metade da meia maratona. Era isso que pensava, completar a meia-maratona (coisa que eu já conhecia) e depois cada volta de 10 quilômetros, coisa que eu já conhecia também. Daí em diante, subi o que havia descido e desci o que havia descido, tenho que colocar aqui como era divertido encontrar alguns moradores dando as boas vindas aos atletas que passavam naquele morro, foi animador.
De volta a Jurerê passamos por uma estrada antes de concluir a volta (a mesma estrada por onde voltada de bike), a estrada dá uma sensação de que estamos indo longe, quando caminhava mais para adiante ouvi de um cara para um treinado dele: “Você está em um IronMan! Esperava que seria fácil?”, aquilo ficou na minha cabeça daí em diante, não seria fácil, iria demorar, iria para lá, para outro lugar e para outro já que teria que concluir 42 quilômetros de corrida, e daí em diante a ansiedade não apareceu, já sabia que não teria mais as ladeiras que havia passado.
Ao abrir a segunda volta, o Adelino me animava falando que agora seria moleza, na verdade, agora não teria mais ladeiras e as voltas eram bem menores que a primeira que havia feito, faltava mais uma meia para fazer. Mantive o ritmo, corria até os postos de hidratação, pegava alguma coisa, ou água, ou gatorade ou pepsi, caminhava por uns 2 ou 3 minutos e voltava a correr. Quando começava a sair de Jurerê, meu pé começou a doer, uma dor bem aguda na planta do pé, pensei que não queria terminar caminhando e mancando de lá até o final, quando voltei a correr, depois de um tempinho a dor tinha ido embora (ela retornou mais uma vez na corrida e definitivamente após a prova, até agora ainda estou sentindo), ingeri um pacotinho de sal, estava difícil comer alguma coisa, estava com o bolso cheio de gel e bananinha, mas só consegui comer uma bananinha do que havia levado, estava mais uma vez entupido em uma corrida de um triathlon, mas segui, consegui comer uma bisnaguinha, depois empurrei um bolo pullman de chocolate e segui, o Adelino apareceu perto da estrada e falei da minha estratégia, e lhe pareceu boa. Completei a segunda volta para mais 10 quilômetros me separando de ser um IronMan, daí fui tentando administrar que meu pé não voltasse a doer e pensando em não pegar minha blusa no special needs embora o frio aumentasse e começasse uma pequena chuva. O Adelino me encontrou no mesmo ponto e me sugeriu não parar mais, e fazia sentido, estava parando para ter pernas para chegar ao final e tinha mais 4 quilômetros apenas, daí fui.
Como este ano era proibido terminar a prova acompanhado, quando apareci no tapete azul, tentei ver minha turma e os encontrei na arquibancada, tinha certeza que iria cair em choro, por duas vezes que antecipei este momento na prova quase chorei mas naquele momento só queria festejar, toquei a cada um da minha turma e cruzei o pórtico com um salto de alegria, sem palavras para descrever tudo o que sentia e o que sinto agora, estava acabado, 13 horas e 28 minutos! Uma pena não encontrar imediatamente a todos após a prova para dar aquele abraço.
Ao contrário de muitos, faria um IronMan no ano seguinte sem problema, por problemas de agenda, uma outra prova ficará para 2016. E é isso, volto a treinar em julho ou agosto, sou triatleta, ironman, e há mais desafios para desfrutar pela frente. Obrigado por me acompanhar.